Índice feito anualmente pelo instituto revela que, embora ainda na lanterna do ranking, as legendas atingiram seus melhores níveis desde o início da série histórica

A confiança dos eleitores brasileiros nos partidos políticos atingiu, em 2023, o maior patamar em 15 anos, revela a mais nova edição do Índice de Confiança Social (ICS), série anual de pesquisas presenciais feitas desde 2009 pelo Ibope e mantida com a mesma metodologia pelo Ipec. A imagem do Congresso também melhorou neste ano, assim como a do presidente da República, pouco mais de seis meses depois dos ataques golpistas de 8 de janeiro contra as sedes dos Três Poderes. O levantamento também mostrou que católicos e evangélicos ainda refletem a polarização de 2022 e que a confiança dos brasileiros no presidente da República encontra-se no maior nível desde 2012.
O índice do Ipec atribui notas de zero a cem para 20 instituições, sendo que zero indica nenhuma confiança e cem, muita. As entidades ligadas à política ainda são “lanternas” no ranking, mas nunca desde 2009 atingiram os atuais patamares. Partidos políticos chegaram a 34 pontos nessa escala e estão na última posição, mas com um aumento de quatro pontos em relação a 2022. Já o Congresso marcou 40, alta de seis pontos em um ano. Entre 2015 e 2018, por exemplo, os partidos marcavam entre 16 e 18, enquanto o Congresso registrou entre 18 e 22.
Para a CEO do Ipec, Márcia Cavallari, a melhora na opinião pública em relação aos partidos indica que o clima da “antipolítica” que era mais comum no ápice da Operação Lava-Jato e no impeachment de Dilma Rousseff ficaram no passado:
— Esse indicador costumava crescer em anos eleitorais. Entretanto, entre 2015 e 2018, o índice de confiança nos partidos atingiu o menor valor da série, refletindo a negação da política vivida nesse período. Após a eleição de 2018, o indicador voltou a obter valores em patamares observados anteriormente. Acredito que as eleições contribuem para a discussão política partidária. Os eleitores ficam mais próximos dos partidos e, por fim, o clima já não é mais o do “não” à política.
Embora a polarização de 2022 tenha sido tão radicalizada a ponto de resultar no 8 de janeiro e inúmeros episódios de violência, o envolvimento de cidadãos comuns com a política aconteceu de ambos os lados, o que também pode influenciar nos melhores índices de confiança.
Os jovens com idades entre 16 e 24 anos são os que melhor avaliam os partidos. Nesse estrato social, o índice de confiança das legendas atinge 40 pontos. Os moradores do Nordeste também têm percepções mais positivas que a média: as siglas registram 41 pontos na região.
Já o Congresso obteve suas melhores avaliações entre a população de baixa renda (classes D e E) e os menos escolarizados (que cursaram só até o ensino fundamental). Na média geral, deputados e senadores computaram 40 pontos na escala do ICS, seis a mais do que em 2022.
Para a professora Rachel Meneguello, da Unicamp, a alta da confiança nos partidos e no Congresso “reflete certo ânimo com o funcionamento democrático da política brasileira”. No entanto, ela pondera que ainda são maioria aqueles que dizem desconfiar dessas instituições:
— Em pleno início de um novo governo, de forte feição democrática e partidária, e após uma campanha mobilizadora de forças políticas variadas, são muitos os que não confiam nas instituições que organizam, representam e deliberam interesses da população. Esse é um dado muito significativo em um contexto de reconstrução da democracia, e mostra que há muito a fazer para construir a disposição e apoio necessários ao regime democrático.


