Especialistas entendem que Trump não tem a intenção de criar uma nova ordem mundial, mas que suas ações estão voltadas em interesses unilaterais
Em meio ao tarifaço do presidente norte-americano Donald Trump, países se veem obrigados a negociar acordos comerciais com os Estados Unidos. Apesar da falta de avanço no caso do Brasil, tarifas de países como Japão, Indonésia e Filipinas foram reajustadas.
Para especialistas ouvidos pela reportagem, as medidas de Trump marcam uma reconfiguração do sistema internacional, marcada, principalmente, por uma crise em instituições multilaterais, como a ONU (Organização Nações Unidas) e OMC (Organização Mundial do Comércio), por exemplo.
Um exemplo disso é o enfraquecimento do Órgão de Apelação da OMC, provocado, em parte, pelos EUA ao bloquear nomeações, o que acaba comprometendo a efetividade do sistema de penalização. Recentemente, sem citar os EUA, o Brasil questionou na OMC o uso de tarifas como instrumento de ameaça.
Para o especialista em relações internacionais Guilherme Frizzera, o enfraquecimento dessas instituições e uso de práticas coercitivas, como tarifas e sanções, forçam outros países a buscar alternativas fora “sua órbita de influência”.
“Diferentemente do período pós-Segunda Guerra Mundial, em que os EUA lideraram a construção de uma ordem internacional liberal, o cenário atual aponta para o surgimento de uma nova ordem não por iniciativa americana, mas como reação à sua retração e à sua postura confrontacional”, explica.
Apesar da crise diplomática global gerada por Trump, as arrecadações das tarifas de importação somam US$ 100 bilhões desde o começo do ano nos Estados Unidos, aponta a imprensa norte-americana.
A professora em relações internacionais Natali Hoff entende que Trump, ao usar o comércio internacional como instrumento de poder, coloca em risco a ordem internacional liberal, baseada em regras e instituições, e cria tensões com alianças históricas, como a crise com o Brasil.
“Isso [tarifas] vem tendo um potencial bastante corrosivo para essa ordem internacional que já andava bem mal das pernas. Então, certamente, existe o uso do comércio internacional como um instrumento de imposição unilateral, de vontade, por parte um ator muito mais forte, que são os Estados Unidos, com certeza denota um rompimento com essa perspectiva de uma ordem internacional baseada em regras e no multilateralismo”, comenta.
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